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sexta-feira, 13 de junho de 2008

DIÁRIO DO MEU CAMINHO

MEU DIÁRIO
De Leon a Villandangos Del Paramo
No aeroporto de Leon já encontrei com outros peregrinos que também chegavam a cidade.

Vista da janela do meu quarto: Rio Bernesga.

Cathedral e Plaza Mayor em Leon.



Ponte Medieval



13.VII.2008
Iniciei minha jornada em Leon.

O que mais impressiona na chegada naquela cidade é ver os peregrinos passarem com suas mochilas em marcha firme com rostos marcados pelo esforco físico e pelo suor.

Aquela cena se torna inesquecível na memória. O pensamento acontece _ como poderei amanhã ser eu a fazer está cena?

E a cena acontece. Nos tornamos o protagonista em marcha em Caminho de Santiago. Durante a cena, as lendas também acontecem.

As lendas são as experiências que nos remetem ao nosso mais profundo interior físico e mental. Alguma coisa que se mistura e se distingue. Alguma coisa que transcende ao corpo e a mente e que nos orienta e emociona.

Ultreya, Ultreia, Buen Camino, Ânimo Peregrinos!
Virgen Del Camino _ 14.VII.2008
Distância: 25 Km.
Tempo que demorei caminhando: 9 horas
Dificuldade: baixa. Apenas senti demais o peso da mochila e o sol.
Desnível: 62 m .
Data: 14.VII.2008

14.VII.2008Saí de leon em torno de oito horas e percorri o Camino tranquilamente. No início eu via alguns peregrinos e no meio da jornada me vi sozinha a escolher por qual direção seguir no Camino, pois cheguei numa encruzilhada.
Logo no início caminhei umas três horas no meio do campo completamente só, debaixo de um sol incessante. Cruzei um túnel que me remeteu para alguns filmes que já vi, com cenas de violência, sobretudo em becos e túneis. Com isso, tive a nítida sensação que possuímos registros mentais que carregamos seja por onde quer que vamos e que os mesmos não se apagam, nos causando medo e insegurança. No túnel, olhei por várias vezes para trás com receio de estar sendo seguida, mas logo me dei conta que estava só e aos poucos o Caminho foi me dando um sentimento de que estava salva e segura.

Fazia tanto sol, que o campo parecia não ter fim. Marchava com um único pensamento_¨siga em frente sem relaxar até chegar¨. Tudo era novidade e a cada passo seguro sentia dúvida, pois durante todo o percurso deste dia, penso que vi apenas cinco peregrinos. Cada passo que eu dava, ganhava mais entendimento sobre o que é fazer o Caminho de Santiago a pé e sozinha. Tudo o que temia, aconteceu. Era somente eu andando sozinha de uma cidade a outra, ora pela carreteira e ora pelo campo.
Fiz uma parada para comprar água num lugar que oferecia almoço e o prato do peregrino. Lá encontrei um grupo de estudantes franceses que havia visto na cidade de Leon e fiquei perplexa com o que eles comiam e com aquele lugar. As moscas voavam e ocupavam todo os espaço do bar, e repousavam sobre a louça empoeirada. Uma senhora preparava os pratos para os peregrinos_ovos fritos com batatas fritas e grandes rodelas de presuntos fritos. Foi um grande azar conhecer o famoso prato do peregrino desta forma.

Bebi um suco energético, daqueles pronto de caixinha, e comprei uma garrafa de água. Deixei aquele lugar que cheirava óleo, o mais rápido que pude e parti marchando com a pesada mochila nas costas, que já se impunha ao meu limite físico. Continuei o Camino com muita dor nas costas e ombros. Após 25 Km e sete horas caminhando, cheguei no hotel e não saí mais. Quase parada e mancando procurei meu quarto e me joguei na cama dormindo por duas horas do mesmo jeito que havia me jogado. Neste dia, meu corpo pedia descanso e o deixei quieto.
Plaza Mayor & Cathedral de Leon_ a cathedral é uma construção monumental e a praça em sua frente é muito pequena para se conseguir uma fotografia de corpo inteiro e cathedral inteira. Sobretudo, quando se está só e dependemos de alguém para nos fotografar. Nestas duas fotografias é possível se ter uma noção de dimensão e tamanho quando comparamos a cathedral com a minha sombra
"Neste túnel parei. Observei todos os lados. Nenhum peregrino estava a vista e o horizonte neste ponto é bastante distante. Senti receio pelo túnel, pois me remeti a cenas de violência acontecidas dentro deles em filmes que assisti...aos poucos o caminho foi me dando um sentimento de que estava salva e segura."



Casa Botines: obra de Antonio Gaudi 1891.


Cruz de Santo Toríbio em San Justo de La Vega.
San Miguel del Caminho.

Um comentário:

Obrigada pelo carinho!