Páginas

sexta-feira, 13 de junho de 2008

De Ponferrada a Villafranca Del Bierzo

CASTELO TEMPLÁRIO DE PONFERRADA
18.VII.2008
Saída de Ponferrada: Café com Aoifa (irlandesa) e a Hyunsook (koreana) & Plaza Mayor, Plaza virgem De La Encina_Ponferrada

Aoefa em Ponferrada.

Hoje o caminho foi mais tranquilo, embora o sol queimando durante todo o percurso. Quando despertei, pensei que não fosse conseguir sequer dar um passo ou mesmo sair da cama, tamanha era a dor que sentia no corpo, ombros e pés, e nas bolhas. Com alongamento, medicação e banho a disposição nos toma conta novamente.

Após tomar o café da manhã saí em direção ao caminho e parei apenas para comprar água e isotônico porque fazia muito calor, e ponderei ser melhor me previnir da sede, mesmo sabendo que haveria pequenas vilas e mais pueblos em uma distância bem mais curta que a anterior.

Comecei a andar e depois de dez minutos marchando o corpo aquece e se abranda, e a caminhada e os passos se tornam mais fortes e rápidos.

Saí de Ponferrada as 9:15hs e cheguei a Villafranca Del Bierzo as 16:30 hs. Precisei ter mais paradas para descanso que no dia anterior. Numa das paradas, tirei as botas para pinçar as bolhas que havia se enchido novamente e doía demais. Quase não pudia andar, mas esvaziando- as e protegendo-as, era possível marchar novamente. Numa outra parada, comi uma tortilla (omelete com batatas cozidas) deliciosa e visualmente perfeita. Era daquelas que sempre tentei fazer em casa e nunca consegui. Qual o tipo de panela ou frigideira que usaram, pensava eu maravilhada com o meu prato regado pela água mais gostosa que já tomei. "Não sei para onde foi tanta água e isotônico que bebi pelo caminho", pensava constantente sobre a bebedeira.

No caminho geralmente não sentia fome, porque com o calor e o exercício da caminhada me tirava o apetite. Mas mesmo assim, me alimentei muito bem todos os dias, porque sabia da responsabilidade que tinha com minha saúde para poder caminhar. Em compensação a sede era tanta, que perdi as contas de quantos aquarius (isotônicos) tomei. Como precisei tomar antialérgico todos os dias, devido a alergia de pólens, gramíneas e remédios, nesta altura do caminho já me sentia bastante inchada. Mas o inchaço não era importante. Sentir se bem no caminho é o que importava.

Quando o corpo está abastecido e saciado, a mente se desliga das necessidades e se concentra melhor nos deveres. Assim a marcha se torna melhor e rende mais. Assim é o meu pensamento.

Ao chegar em Villafranca passei por uma ponte medieval lindíssima e fiz alguns retratos. Fiquei encantada com a cidade. Estava tudo fechado em horário de almoço, mas existiam muitas pessoas na rua. A cidade é encantadora. O caminho cruza a Calla Dágua, uma rua estreita e longa, inteira cercada por sobrados. Típica rua medieval. Aquela rua me encantou novamente e também fiz algumas fotografias.
Após me hospedar, guardei a mochila, me sentei num café na Plaza Mayor e almocei. Insalada mixta e trucha com pudim de leite de sobremesa. O vinho foi um tinto Mercia Sevilla Bierzo, denominação de origem, produzido em Cacabelos na província de Leon. Local vizinho muito próximo dali.

Escrevi estas pautas neste café em que cito que almocei. Estava me sentindo especialmente muito feliz. "... venci o desafio que pensei ser impossível ..." chegar até Villafranca caminhando depois de viver o difícil dia anterior.

Estava feliz, mas no caminho achei impossível relaxar. A tensão para o dia seguinte me habitava sempre. Fez parte de minha rotina, os cuidados, a tensão e o descanso. Todavia, cada dia a mais de caminho, entendia o quanto se precisa estar preparado para aguentar, todos os dias caminhando tantos quilômetros com o peso nas costas. Meu corpo estava muito sentido. Pensava que sem os antiinflamatórios não seria possível sair do lugar. Eu estava dopada.

Depois do almoço fui até a igreja selar a credencial e sentei no primeiro banco da mesma para escrever e rezar. O cheiro era de muita paz. Escutava o silêncio. Ali fiz um balanço de todos os pueblos em que passei e quantos quilômetros tinham cada um. Leon 3.7, Trobayo 4.1, La Virgem del Caminho 5.0, Fresno 2.5, la Aldeia De La Valdocina 8.0, Robledo 4.0, Estácion de Villandangos 2.0, Oncina 6.0, Chozas de abajo 3.9, Villa mazarife 9.0, Villavante 3.5, Varverte de La Virgem 1.4, San Miguel 5.0, Hospital de Órbido 2.2, Villares de Órbido 2.7, Saltibanez 8.1, San Justo de la Vega 3.2, Astorga 4.7, Múrias de Rechivaldo 4.8, Santa catalina de Somoza 4.2, El Ganso 6.9, Rabanal 5.7, Foncebadon 4.1, Manjarin 6.9, El Acebo 3.7, Riego de ambrós 4.3, milinaseca 4.4, Campo 3.6, Ponferrada 4.8, Columbrianos 2.8, Fuentes Nuevas 2.0, Camponayara 5.7, Cacabelos 3.0, pieros 4.1.

Foram aproximadamente 235 Km andados. Isso justificava as bolhas em meus pés e a dor que sentia em minhas pernas. Nada era em vão e a minha estória naquele curso, acontecia. Questionava me sobre a agressão ao corpo, mas o espírito de peregrinação, a chegada e a própria marcha de outros peregrinos me motivava a continuar.

Penso que estive conhecendo os meus limites físicos e descobrindo que posso ser muito mais forte do que sempre me julguei ser.

No banco daquela igreja sussurrei: "Obrigada Senhor! Obrigada por minha saúde, minhas pernas, meus dias aqui no caminho e por toda infra estrutura que está sendo me oferecida neste caminho".
(Igreja de Villafranca Del Bierzo)


Aoefa em Villafranca Del Bierzo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo carinho!