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sexta-feira, 13 de junho de 2008

De Arzua a Santiago - A Chegada a Santiago

25.VII.2008
Credencial do Peregrino


Compostelana
Dnam Catharinam Tolomei Fonseca



No dia 25, em que se comemora o dia do Apóstolo, caminhei mais de 30 Km. Encontrei dois amigos, de Múrcia, pela manhã, e o grupo neste dia foi fundamental para vencer a distância.
Choveu durante todo o tempo e cheguei a Compostela com barro até o joelho e parecendo uma mendiga tamanha era a minha exaustão. "Hoje caminhei com Victor e Antonio. Rimos e brincamos bastante durante o caminho. Chorei de tanto gargalhar."
A alegria fazia com que a neblina e a chuva se tornassem gostosas, mas mesmo assim tive momentos que foram tão difíceis, que pensava em não sair mais do lugar. Antônio, o mais velho de nós três, era o mais equilibrado, e o que estava se sentindo melhor de saúde. Nos dava muita força para continuarmos. Quando via que o caminho estava ficando insuportável para mim e para o Víctor, que também estava com os joelhos debilitados, sempre tinha uma palavra bacana e bem empregada. Quando era preciso, que um de nós, parássemos, todos acompanhavam.
Para mim, neste dia, ficou muito claro, que eu precisava de Víctor e Antonio. Fizemos três paradas pelo Camino, ao passarmos e ganharmos os pueblos anteriores a Santiago, Calzada, Ferreiros, A Bréa, Santa Irene, A Rúa e A Lavacolla, com direito a chocolate quente e bocadilhos.
Em cada parada o corpo sentia todo o peso que carregava mais o peso da chuva. Devo lembrar que minha mochila já estava quase vazia, mas pesava mesmo assim. E quanto mais andava, mais o peso parecia com o do primeiro dia. Víctor e Antonio fumavam nas paradas, e a cena me confundia. Não era possível entender, como suportavam engolir tanta fumaça de cigarro no meio de tanto esforço físico. Quando sentia o cheiro da fumaça, me sentia bastante incomodada.
Durante a marcha, várias vezes pensei que não estava mais aguentando aquele ar frio e molhado e tentava entender como eles suportavam.
Ficávamos os três em silêncio por longos minutos, porque o ar nos faltava com a chuva fria e precisávamos nos concentrar. Teve momentos que cheguei a ter pena dos dois, pois sabia que não estava sendo fácil para ninguém. Momentos de êxtase e alegria, eram cortados pelo silêncio e vice-versa.
Como sempre, os primeiros quilômetros foram fáceis. Depois do décimo, e sabendo que ainda haveriam, mais quase vinte quilômetros pela frente, a mente padece e precisa de uma força amiga para continuar. Graças a Santiago e graças a Deus, eu tive duas forças amigas neste dia e consegui dar passo a passo de Árzua a Santiago. Os 38 quilômetros que percorri neste dia me deixaram uma pessoa mais leve e me fizeram uma pessoa mais feliz!
Em Santiago encontrei com minhas origens familiares. A Família Fonseca, que teve grande importância na colonização de Santiago e da Galícia. Antônio, de Múrcia, e eu.
Chovia demais neste dia. Caminhei mais de 30 Km debaixo de água e encima de barro. Mas a emoção da chegada me movia à frente. O companheirismo neste dia, de Victor e Antonio, foi fundamental para superar o desânimo de caminhar, ora fosse pela chuva, ora pela distância, e ora pelas dores nos ombros e nos pés. Vale lembrar que nesta altura, minha mochila já se encontrava quase vazia. Todavia, fui deixando as coisas que não usaria mais pelo caminho.

DIA 25 DE JULHO CHEGUEI A SANTIAGO DE COMPOSTELA

Plaza del Alamedas Plaza del Praterias

Plaza del Obradoiro: Obradoiro significa "trabalho de ourives". A fachada da Cathedral de Santiago e a praça a sua frente, se chamam Obradoiro, porque a fachada foi trabalhada de forma muito artística e detalhada, por pedreiros em princípios do século XVIII. Minhas origens _ Fonseca .







A chegada é linda, pois encontramos muitos peregrinos, nas proximidades do Monte Gozo. Embora estivesse muito nublado e com muita garoa, ver Santiago do Monte do Gozo foi uma sensação única de conquista e satisfação.
Ao entrar em Santiago chegamos ao centro histórico e ficamos meio perdidões com o peso nas costas e a cidade em festa. Estávamos exaustos e me sentia fora do cenário daquele clima de festa. Eu precisava me recompor.
A primeira coisa que fiz ao chegar e me sentir meio perdida, foi procurar o hotel em que me hospedei, o San Lourenzo. Depois de tomar um banho quente, e largar o peso da mochila voltei para o centro histórico próximo ao hotel e fui em direção a Cathedral. Chegando lá me preocupei primeiro em selar a credencial numa das esquinas da Plaza Praderia, e foi lá também, que recebi o meu certificado de compostelana. Estava tão feliz. Passei horas do dia sozinha e muito feliz. Havia muitos peregrinos chegando por lá, também, com o mesmo intuito, de selarem suas credenciais.
Segui para a Plaza de Obradoiro e ao chegar fiquei muito emocionada, pois aquele lugar habitou os meus sonhos e era como chegar num local, em que já havia estado antes, sem nunca ter estado.
O sol brilhava e os pássaros voavam. As gaivotas cantavam. A Cathedral molhada pela chuva me lembrava à caminhada dura e longa do dia, e me deixava melancólica ao mesmo tempo em que em estado de graça.
Havia lido em algum lugar que Santiago é a cidade mais bonita da europa. De fato, a cidade, e sobretudo, o centro histórico, são encantadores. São vielas que se misturam num misto medieval e que nos acolhem por onde quer que vamos. Todas as esquinas nos surpreendem com imagens fantásticas das plazas e sua história.
Conheço pouca coisa da Europa, mas já pude conhecer Paris e em minha opinião nada se compara a Santiago. Realmente é juntamente a Paris, pelo menos que eu conheça, as cidades mais lindas e mágicas do Continente Europeu.
A Cathedral possui uma vista monumental e esplêndida. Seu interior é de gigante espaço com muita prata, ouro e detalhes incomparáveis. A Tumba do Apóstolo, em prata, se localiza abaixo do altar central todo trabalhado em ouro.
Assisti à missa dos peregrinos que foi bastante especial por ser hoje, 25 de julho. A cidade de Santiago de Compostela é a capital da Galícia e A Coruna está em festa. O fumeiro, durante a missa, inalava um frescor de sândalo no ar.
Realmente é deslumbrante ver o fumeiro se movimentar soltando tanta fumaça. Tive visões singulares e com vivências gravadas em mente inesquecíveis. Emocionei-me com o pesamento misturado ao significado histórico do botafumeiro às emoções sentidas em caminho.
Choveu muito na cidade, mas pela noite o sol brilhava. À noite durante o verão somente escurece em torno de 23:00hs na Galícia.
Durante todo o dia me senti uma pessoa muito especial e privilegiada por poder realizar meu sonho de peregrinar, e com saúde, mesmo com algumas limitações impostas pelo esforço repetitivo, poder caminhar quase 350Km, ou mais. Pois, o Caminho de Santiago possui muitos desvios e andei por todos eles. Além, é claro, também, de andar nos pueblos após a chegada e descanso.
"Somente hoje em Santiago, caminhei no mínimo 10 Km durante o dia todo. Fiquei tão encantada que só parei para descansar em cafés e mesmo assim, em cafés que podia observar o movimento da elegante cidade que nos convida a andar sem parar."
Chegar a Santiago em 25 de julho também foi uma glória. Dia de festa. Tornei me compostelana. A peregrinação é um momento único e singular.
Alguma coisa interior aconteceu. Transformou.
Ultreya peregrinos!
Filme realizado para se escutar as badaladas dos sinos em 25 de julho.

25 de Julho (Dia do Apóstolo)
*Santiago de Compostela é uma das mais belas cidades da Europa. Mas o burgo de matriz urbana medieval está longe de ser um museu de pedra: é, aliás, uma das cidades mais animadas da Espanha. Em vários planos, na verdade: religioso, cultural e lúdico.
A cidade foi declarada pela Unesco como «Patrimônio Universal da Humanidade» em 1985.

2 comentários:

  1. Olá
    Quero parabenizar por sua jornada e pelo seu relato. Adoro conhecer as sensações de cada peregrino... me leva a uma percepção diferente do caminho que fiz.
    Abraços

    Rubens
    http://santiagodecompostela2007.blogspot.com/

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  2. Pois é, Rubens! Nenhum Caminho é igual ao outro. Cada um faz o seu. Agradeço sua visita e carinho. Abraço e 'buen camino'!

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Obrigada pelo carinho!