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sexta-feira, 13 de junho de 2008

De Astorga a Rabanal del Camino

16.VII.2008
Rabanal Del Caminho: uma construção de arquitetura local destruída pelo tempo. Neste dia eu estava muito mal e saí de minha hospedaria apenas para dar uma volta curta pela localidade. Não me encontrava em condições de dar um passo sequer.
De Astorga para Rabanal atravessei o deserto de vegetação baixa. Foram quase 20 Km desta imagem. A pequena sombra que jaz é minha.



Palácio Episcopal de Astorga. Obra de Antonio Gaudi em 1887.



Este é um gato-de-olhos-de-diamante, chamado "Khao Manee", que significa "jóia branca", _ Gato Sagrado do Sião.
Em Murias de Rechivaldo encontrei um gato idêntico ao meu Neve. Um Khao Manne _ o gato sagrado do Sião. Um momento mágico!
Este é o gato que encontrei no caminho> Estes dois são os meus gatos: o Nero e o Neve. São irmãos e nasceram em minha casa. O Neve, além de ser um filho de autênticos British Shorthairs, foi abençoado por Sião e também é um Kao Manne com olho de diamante. O diamante está ao mesmo lado que do gato que encontrei em Caminho.


Comecei a marchar antes das oito horas depois do café da manhã no Hotel Asthur Plaza que começou a ser servido as sete e meia. Logo no início do caminho, na Plaza Mayor em frente a Igreja de San Bartolomeu, conheci a Hyunsook e a Yugi, duas simpáticas coreanas, e segui caminhando e conversando com as duas. Hyunsook, 56, me surpreendeu com rápida marcha que fazia com que sumisse diversas vezes de meu horizonte. Apenas a reencontrava novamente nas paradas para descanso. Sua amiga Yugi, 30, também marchava muito rápido e difícil era acompanhá-la. Ambas muito simpáticas, solidárias e com o corpo magrinho, pequeno do tipo mignhom.



Conversei bastante com as duas e marquei este nosso encontro com um retrato. Incrivelmente neste dia, nós três usávamos camiseta cor de rosa. Teve até uma brincadeira: "pink ladies" el camino...


Foram mais de 20 Km de sol. Parecia um deserto. Não havia árvores para sombrear. Apenas uma vegetação seca e baixa que dava caminho a uma estreita passagem de terra batida, ora branca como areia e ora vermelha_era o Camino de Santiago. Vez ou outra via um peregrino sentado no chão todo encolhido tentando se encaixar numa pequena sombra daquela vegetação rasteira. Uma cena lamentável. Ah, como eu sabia o que ele sentia. Somente não sentei no mesmo lugar, porque não havia sombra para mim e o sol me impulsionava a frente porque não o suportava e buscava alguma chegada de sombra para descanso.


Durante a marcha as bolhas em meus pés aumentaram e com isso não suportava mais o peso da mochila. Como foi difícil. Muitos peregrinos passaram por mim, que caminhava muito devagar. Teve um certo momento que me via caminhando quase parando. Neste dia cheguei a conclusão que minha mochila estava muito pesada.


Neste instante encontrei dois moços de Barcelona que pararam e se preocuparam muito comigo, pois era visível que eu não me encontrava bem. Ambos se ofereceram para levar a minha mochila até Rabanal de Caminho, mas nesses momentos é quase impossível receber ajuda, pois todos estão na mesma situação e todos possuem suas mochilas para carregar. Depois de uma pausa numa sombra que encontramos, saímos os três caminhando para a marcha final. Foram uns 4 Km que caminhamos juntos até chegar em Rabanal. Quando escritos, os 4 Km parecem tão curtos e fáceis, que jamais entenderia o que senti se não tivesse estado lá caminhando. Quando chegou em minha Pousada, a do Gaspar, depois de uma longa subida, nos despedimos com um forte abraço. Na pousada, almocei e dormi.


Neste dia meus limites fisícos gritaram comigo e muitas vezes pensava que não conseguiria chegar. Mas em hipótese alguma pensava em parar. Apenas achava que seria uma dura prova chegar. Desistir não me passava pela cabeça. Apenas me senti muito fraca e sabia que alguma coisa deveria ser feita para poder caminhar no outro dia.


Tomei algumas decisões para continuar. Deixei metade dos meus pertences pessoais no hotel. Inclusive um par de tênis novíssimo da Timberland. Havia levado porque me disseram e li em algum lugar que era bom alternar o calçado. Mas na prática, aprendi que com um só calçado, a bota, fazemos o caminho. Pensei neste dia em deixar cada grama que me fazia mal. Deixei guia, caixinhas de papel de medicamento, bermuda, camiseta e canetas.


Neste dia, que foi muito doloroso, algo não saia de minha mente durante o tempo todo: "pensei que não fosse fácil, mas não sabia que é tão difícil". "Preciso de trégua. Dezenove horas e eu já na cama. Daqui a doze horas a marcha se inicia e preciso continuar".


Senti muito medo. Estava com medo de mim mesma. Medo de não conseguir algo tão simples que é caminhar. Meu dia havia sido muito difícil.


Sr. Pepe Benito na entrada de Santa Catalina de Somoza. Aqui comprei o meu cajado e conversei bastante. Este senhor já uma figura conhecida há mais de vinte anos pelos peregrinos que aqui passam. Além da venda dos cajados, conchas e chapéus na entrada do pueblo, Benito é dono da hospedaria San Blas, a qual possui um bar com mesas em pleno caminho e os peregrinos aproveitam para descansar, comer e beber.
San Blas é o padroeiro desta povoação e deu o nome a Igreja local e a pousada de Sr. Benito.


Palácio Episcopal de Astorga: Obra de antonio Gaudi em 1887.


Debilitada, escrevi:

"Estou me sentindo extremamente apreensiva. Preciso ser forte para encarar a montanha, o Monte Irago amanhã. Serão 33 Km e meus pés estão em bolhas. Meus ombros estão doendo muito. O dejenuno começa a ser servido as sete horas. Pretendo começar a marchar as sete e meia no máximo. O tempo previsto no guia para a distância de amanhã é de 8:15hs. Mas sei que precisarei de um tempo muito maior do que este. Caso dê tudo certo e minha marcha durar onze horas, chegarei em Ponferrada as 18:30hs. Que Deus me abençoe e me acompanhe bem pertinho neste dia. Meu medo não é mais do desconhecido. Agora já sei como o Caminho tem sido difícil para mim. Sobretudo a reta final. Com menos peso na mochila espero suportar este meu dia.

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