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sexta-feira, 13 de junho de 2008

De Villandangos Del Paramo a Astorga

15.VII.2008Pescador de trucha dentro do Rio Órbigo Campos de Cereais

Ponte Gótica do Séc. XIII, conhecida como "Passo Honroso". Ela liga duas localidades: o Hospital de Órbigo a Villares de Órbigo.


Campo de Girassóis _ conversei com muitos peregrinos que passaram por aqui bem mais cedo do que eu e me contaram sobre a beleza deste campo com os girassóis fechados. Está fotografia fiz em torno de dez horas da manhã e fiquei encantada pela imagem.
Distância: 31 Km.
Tempo que demorei caminhando: 10 horas
Dificuldade: embora o terreno fosse plano, está distância é muito longa e se torna de dificuldade altíssima.
Desnível: 282 m .
Data: 15.VII.2008

Hoje foi um dia bastante difícil. A saída de Villandangos foi demorada e quando o sol do meio dia brilhava, ainda não havia chegado nem a metade de meu caminho.

Caminhei dez horas debaixo de um sol que não tinha trégua por nada. Não havia nuvens e nem árvores para sombrear o caminho.

Precisei parar algumas vezes para descansar os ombros que doíam. Numa dessas paradas senti a planta de um dos meus pés queimar. Parecia ser uma bolha. Mas não sabia ao certo, pois tudo ali era minha primeira experiência. Levantei me e assim que comecei a caminhar novamente, um forte ardor estrilou naquele pé e pude sentir a bolha se esvaziar. A dor foi incrível. A intensidade foi passageira. Ela havia se esvaziado do mesmo modo que se encheu.

Com a dor nos pés, os ombros foram vagarosamente esquecidos. Teve um banco que passei e não queria parar de forma nenhuma, pois eu possuía um só objetivo, o de chegar a Astorga e a sede já em consumia, e precisava seguir. Mas meu corpo pedia descanso. Não aguentei e voltei alguns passos cedendo ao corpo. Sentei e chorei. Chorei porque me senti fraca. Naquele instante perdi toda a minha razão. Minhas crenças estavam emganadas. O meu físico falou mais alto do que eu mesma. Era um limite, e mesmo em contradição fui realmente obrigada a respeitar.

Caminhei por mais aproximadamente 15 Km daquela parada em diante completamente sozinha. Nem sequer um peregrino a pé ou de bicicleta passou por mim. Eu estava só e tive muita sede. Uma sede mortal para mim. Uma sede que não me lembro nunca ter sentido. A água havia acabado e nenhuma bica natural apareceu a frente. Também não havia pueblos. Estava só e precisava continuar. A subida era longa e de perder de vista. Vi uma garrafa com um quarto de água jogada no Caminho, que estava fervendo com o sol. Mesmo assim, a peguei, abri e bebi...Bebi gotas de água, mas me confortou por segundos, pois estava preocupada com o sol e aquela sede.

Não vi nenhum peregrino nesta parte do Camino. Foram cinco horas de marcha sozinha e no meio do campo. Vi muitas cenas lindas. Registrei todas elas: os girassóis, o trigo e o verde. Caminhei ao son dos meus passos. Vez ou outra, eu e os largartos nos assustávamos um com o barulho do outro.

Tive visões fantásticas de paisagens lindíssimas. Lembrei me de Van Gock ao ver um campo de girassóis que me emocionou. Nunca pensei que fosse conhecer ou encontrar tamanha exuberância amarela e sem fim, num só espaco habitando a natureza e neste Camino. Uma surpresa, realmente, brilhante. Compreendi a inspiracao dos artistas da história da arte.

Hoje reaprendi uma grande lição: não contar com o que ouvi falar, como por exemplo que haveriam muitas fontes de água natural pelo Camino. O meu cantil e mais dois sucos de laranja não me foram suficientes para cinco horas de caminhada. Passei muita sede. Aprendi o que é sentir sede debaixo de um sol ardente. Ela supera qualquer dor, pois enquanto ela persiste, a dor é esquecida.

2 comentários:

  1. Olá Katia. Terminei em 13 de Outubro a minha jornada Roncesvalles - Santiago. Está sendo difícil voltar ao "normal". Gostaria de parabenizar-te pelo blog. Muito bonito e estruturado. Passa boas lembranças da grandeza del Camino.
    Namaste

    Marcos

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  2. Muito obrigada por seu comentário Marcos.

    Entendo perfeitamente o que quis me dizer com o "voltar ao normal".

    Também sei o quanto não é fácil, nos trazermos de volta para a rotina. Com isto, podemos ter a certeza que fazer o Caminho de Santiago, não é fazer turismo. Voltamos profundamente tocados e penso que não seremos mais os mesmos.

    Agora temos a Galícia no coração. E sabemos, que deixamos por lá os nossos passos no chão. Isso nos faz peregrinos 'Del Camino de Santiago'. Acredito que em qualquer tempo, a experiência é singular para cada peregrino. Mas possui unissonância entre todos nós.

    Ultréia, Marcos!

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Obrigada pelo carinho!