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sexta-feira, 13 de junho de 2008

De Villafranca Del Bierzo a O Cebreiro

19.VII.2008
Montes de La Faba na encosta do Monte Traviesa.






Pereje e Trabadelo










Palhota típica em Cebreiro: construção em pedra, de planta redonda ou elíptica com telhado de colmo, destinada em parte à habitação e em parte para o gado.



Dona Encarna e Sr. Pedro


Neste dia conheci o Víctor, de Múrcia_Espanha, e a Hanne, da Dinamarca. Nós três com problemas de tendinite e caminhando muito devagar, sendo passados por muitos peregrinos, sob efeitos de pílulas antiinflamatórias. Saímos de Villafranca Del Bierzo passando por Pereje, um quase desabitado pueblo, Trabadelo e La Portela de Valcarce, onde Víctor parou de caminhar naquele dia. Hanne estava sentindo muita dor e pegou um autobus para Mélide na carreteira em que o Camino de Santiago cruza, o que implicou a ela perder parte do caminho muito preciosa que passa pelo O Cebreiro.
Eu devia continuar. O Cebreiro ainda estava muito distante e muito lá no alto. Não podia ficar muito tempo descansando, pois o sol queimava forte e o calor era demais. Quanto mais tempo ficasse, mais calor eu pegaria e passaria.
Segui adiante sempre sozinha escutando o son das botas e do cajado. Uma subida sem fim. O caminho não era mais novidade. A solidão não era mais novidade. O sol não era mais novidade. Minha tendinite ardia e não era mais novidade. Saquei meu cantil e tomei mais dois ibuprofem. Exagerei na dose, mas ele me fazia suportar a dor. Continuei. Passei por pastos próximo de O Hospital e precisei dar passagem a várias vaquinhas que cruzaram meu caminho. Eu precisava passar, mas senti medo das pobrecitas. Esperei todas passarem e rezei para que nenhuma se equivocasse comigo. Nesses momentos em que cruzei animais e estando sós, senti muito medo.
Cheguei a PedraFita Do Cebreiro depois de horas marchando e suando.Pedrafita fica a sete quilometros do Cebreiro, e após ter caminhado os quase 30 Km, me rendi à exaustão. Nestes próximos sete quilômetros seria uma escalada. Encontrei neste pequeno pueblo com um casal de peregrinos que estavam padecidos. Ambos aguardavam mais alguém para dividir o único táxi que estava ali de passagem. Não tive dúvida alguma. Deus colocou está cena em meu caminho. Peguei o taxi junto aos dois peregrinos e completei a subida chegando no Cebereiro. Eu possuía uma reserva para dormir no Cebreiro neste dia e não podia pousar em outro pueblo. Nesta etapa aprendi que são muitos os obstáculos que podem nos paralizar. Mas poucos são de fato importantes. Com coragem e determição e quase me arrastando, pude me adaptar ao que a situação me oferecia.
Neste dia também chorei. Caminhar quase 30 Km de subida e fragilizada pelas bolhas e uma tendinite, não foi nada comparado ao sentimento de deixar os amigos pelo caminho e ter que seguir só adiante. A sensação de perda e solidão ocupa todo o universo. Foram cinco minutos infinitos de choro sem trégua. Lógico que não chorei feito uma bebezona. Quando digo que chorei sem trégua, é que a emoção não cessava. As lágrimas corriam pelo rosto suado de emoção que se encontrava ao pensamento, e não por dor. Eu já havia me acostumado a marchar com os dois, a rir com os dois e a reclamar com os dois. Mas aprendi caminhar sozinha naquele caminho e me lembrei que estava só. Seguia segura em minha direção..."
A escalada não é algo que se inicia sem perceber. Quando se começa a subir os passos se tornam lentos e o corpo pesa. O corpo se adapta e se abranda ao caminho. Mas nos últimos sete quilômetros neste dia me senti impedida de fazer. Fiz mais de 20 Km e tomei ibuprofem demais. Precisava de uma trégua e uma cama. Continuei da melhor maneira que me foi possível. O importante é continuar.

Um comentário:

Obrigada pelo carinho!