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terça-feira, 22 de julho de 2008

Momentos

AMIZADE
'The Pink Ladies ' - em encontro no bar acima em El Ganso. Sintonia no Caminho.
ALEGRIA



DOR





"...meus pés e dedos ardiam em bolhas. Eram seis em cada pé..."



De Villafranca del Bierzo a O Cebreiro

"...Segui adiante sempre sozinha escutando o son das botas e do cajado. Uma subida sem fim. Minha tendinite ardia. Saquei meu cantil e tomei mais dois ibuprofem...
Neste dia também chorei. Caminhar quase 30 Km de subida e fragilizada pelas bolhas e uma tendinite, não foi nada comparado ao sentimento de deixar os amigos pelo caminho e ter que seguir só adiante. A sensação de perda e solidão ocupa todo o universo. Foram cinco minutos infinitos de choro sem trégua. Lógico que não chorei feito uma bebezona. Quando digo que chorei sem trégua, é que a emoção não cessava. As lágrimas corriam pelo rosto suado de emoção que encontrava o pensamento e não por dor. Eu já havia me acostumado a marchar com os dois, a rir com os dois e a reclamar com os dois. Mas aprendi caminhar sozinha naquele caminho e me lembrei que estava só. Seguia segura em minha direção..."

"...Vi montanhas e caminhei com mosquitos. Tive paisagens lindíssimas e que não imaginava que fossem existir ali. As flores me acompanharam por todos os montes. Eram roxas, amarelas, vermelhas e laranjas. O verde era tão forte na natureza que constratava com o azul do céu..."
De Rabanal a Ponferrada

"...Marchei todo o tempo com muitos mosquitos ao meu redor e com dor nas bolhas em meus pés. A descida foi difícil entender que era tão dura de fazer. Senti cada passo de minha descida. As pedras atrapalham demais. Marcha solitária e doída. Ao escrever estas palavras me emociono, pois aqueles sentimentos foram fortes em mim. Marcha de descida que durou cinco horas com três interrupções para descanso, comida e energéticos. Neste dia fiquei mais forte..."

"...Contudo, já estava sabendo desde o dia anterior que, o que me aguardava seria duro do modo que se apresentou. Logicamente que não contava com os mosquitos e nem a tendinite. Mas consciente de meu caminho, me sentia valente e ótima para sempre continuar. Entretanto, teve um momento de terreno oblíquo que estava me movendo tão lentamente com dor nas bolhas dos pés, que um senhor com metade a mais do que minha idade, passou por mim otimamente bem e me ofereceu ajuda. Conversamos um pouco durante a marcha, e gentilmente me aconselhou a procurar o centro médico em Ponferrada. Logo ele se foi com passos largos e sumiu de minha visão.
Link: http://sant-iagodecompostela.blogspot.com/2008/06/de-rabanal-del-camino-ponferrada.html
Fiquei sozinha na montanha novamente e naqueles passos eu chorei, num misto de dor, emoção e recordação. Recordação da presença confortante daquele homem. Como foi ruim continuar sozinha aquela descida sentindo tanta dor. No momento das dificuldades, a solidão dói..."

Dia 26 em Santiago
"...Acabo de ter uma surpresa maravilhosa: encontrei meu pai em Santiago de Compostela, sem combinar absolutamente nada!..."
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De Astorga a RabanaL
"...Eu pensei que não fosse fácil, mas não sabia que é tão difícil..."

"...após o banho e antes de dormir, o ritual se repete diariamente. Massagem nos pés e nas pernas com VickVaporube, alcool etílico 70% nos pés. Pinçar as bolhas e torcer para que amanheçam e continuem vazias..."
Link: http://sant-iagodecompostela.blogspot.com/2008/06/de-astorga-rabanal-del-camino.html

De O Cebreiro a Triacastela
"...O Cebreiro amanheceu todo coberto por muita neblina e fazia muito frio. Saí para o café da manhã de camiseta e havaianas e logo retornei para calçar botas, jeans e casaco. Neste dia usei a Internet e fiquei feliz porque falei com meu filho, que andava bastante preocupado comigo."
Link: http://sant-iagodecompostela.blogspot.com/2008/06/de-o-cebreiro-triacastela.html
De Villandangos Del Páramo a Astorga

"...precisei parar algumas vezes para descansar os ombros que doíam. Numa dessas paradas sentia a planta de um dos pés queimar. Parecia ser uma bolha. Assim que me levantei e comecei a caminhar novamente, um forte ardor estrilou naquele pé e podia sentir a bolha se esvaziar. A dor foi incrível, mas de intensidade momentânea. Ela havia estourado sozinha do mesmo modo que se encheu..."

Link: http://sant-iagodecompostela.blogspot.com/2008/06/de-villandangos-del-paramo-astorga.html

"...Depois de horas e horas caminhando sozinha debaixo de sol e calor, passei por um banco e não quis parar de forma nenhuma porque tinha um só objetivo, chegar em Astorga, e precisava seguir. Mas meu corpo pedia descanso. Não aguentei e sedi ao corpo. Sentei e chorei. Chorei porque me senti fraca. Senti-me ´sola´ e triste. Nesse instante perdi toda a minha razão. O meu físico falou mais alto comigo mesma. Era um limite físico e fui obrigada a respeitar, mesmo sem a mente aceitar. Foi um dos momentos mais difíceis em minha caminhada..."

De Astorga a Rabanal
Khao Manne _ Gato Sagrado do Sião.
"...cheguei em Murias de Rechivaldo. Este pueblo me revelou uma deliciosa surpresa. Sentado na janela de uma casa, com um olho azul e um dourado, com pelagem branca, um gato Kao Manne (gato sagrado do Sião) igualzinho ao meu Neve descansava tranquilo e me olhava passar. Fui até a janela e ele se levantou, espreguiçando o corpo com uma curva em sua coluna e depois veio até mim mostrando seu pescoco para ser acarinhado. Para mim foi um momento mágico no meio de tanta solidão e sol. Fiquei emocionada. Registrei o belo momento com uma fotografia..."
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De Villandangos Del Páramo a Astorga
"...caminhei após aquela parada aproximadamente quinze Km com muita sede, pois meu litro e meio de água acabará. Nenhuma bica apareceu pelo Caminho. Fazia horas que não via nenhum peregrino. Estava só e precisava continuar. Vi uma garrafa com um quarto de água jogada no meio de umas árvores, e que fervia com o sol. Mesmo assim, a peguei, abri e bebi...hoje reaprendi uma grande lição: não contar com o que os outros dizem. Disseram me que haveria muitas bicas de água natural pelo Caminho. Passei muita sede e nenhuma bica existia ali. Aprendi de fato o que é ter sede. Ela supera qualquer dor, pois enquanto sentia sede não me lembrava de quanto o corpo doía. Enquanto sentia sede, somente existia auto-piedade. Enquanto sentia sede, sentia muito medo. Medo de andar até não aguentar e nada encontrar..."

Um comentário:

  1. Gente,essa é a minha amiga Kátia.
    Vai atrás dos seus sonhos,nunca desiste!!!
    Realmente uma guerreira.

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Obrigada pelo carinho!